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Lucilia Diniz desmistifica o que significa viver bem a vida, por dentro e por fora.
Quando a política entrar na conversa erga um brinde à harmonia. Leia meu artigo publicado na revista Veja.
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“Alguém passa o sal?”, pede a filha.
“Tá na mão”, responde o irmão, e emenda: “Então, vamos passar o fim de semana na praia?”.
A mãe retruca: “Mas vocês não têm prova na segunda?”.
Um elogio ao molho vindo da caçula corta a resposta.
A conversa corre solta até que o genro solta: “E a eleição, hein?”.
O tradicional almoço em família é oportunidade única para reforçarmos os vínculos afetivos com as pessoas que queremos bem.
Claro que há muitos outros momentos para estreitarmos essas ligações, como celebrações de aniversários, passeios em turma e visitas sociais.
Nada disso, no entanto, substitui a rotina gostosa do almoço com pais, mães, tios, avós, netos, sobrinhos e quem mais estiver por perto, como aqueles amigos de quem nos sentimos irmãos.
A macarronada de domingo é agregadora por natureza.
É fundamental preservarmos esse patrimônio imaterial da vida em família.
Não que ele esteja correndo risco iminente, mas o fato é que nos próximos fins de semana o sucesso dessa refeição coletiva será posto à prova pelo clima eleitoral.
O ideal é manter o assunto indigesto longe da mesa.
Muitos têm conseguido fazer isso.
Uma pesquisa recente mostrou que metade das pessoas deixou de falar sobre política com amigos e familiares para evitar discussões tão inúteis quanto acaloradas.
Respeito isso.
A atitude, com a qual se pretende resguardar relações pessoais, está em sintonia com a antiga sabedoria popular, que recomenda não discutir religião, futebol e política.
Às vezes, porém, o silêncio pode não ser uma opção, ou pelo menos não a melhor opção.
De um lado, ao não falar sobre determinado tópico, corre-se o risco de transformá-lo em tabu, o que acaba afastando pessoas que se gostam.
Palavras engolidas em nome de uma sintonia forçada costumam instalar certo constrangimento, porque o silêncio também grita.
De outro lado, o tema pode surgir do nada, como no comentário do genro, e alterar o rumo de uma conversa até então amena.
Nesses casos, o que fazer?
O mais importante é mantermos, na eventual discordância, uma atmosfera de paz, o que tem a ver com a maneira com que nos expressamos.
Com frequência, a forma é mais relevante do que o conteúdo.
Pode reparar.
Na maioria das vezes em que não aceitamos determinada opinião, isso acontece por causa do tom em que ela foi manifestada.
Quando se diz “não sei como alguém pode gostar de coentro na moqueca!” (com ponto de exclamação indignado), compra-se uma briga com quem aprecia o tempero.
Mas a frase “acho que eu prefiro o meu peixe sem coentro…” (com serenas reticências) é um convite à conciliação.
É por isso que fico com Montaigne: “As palavras pertencem metade a quem fala, metade a quem ouve”.
Sim, temos de escolhê-las com cuidado, sobretudo quando o debate é delicado.
Um truquezinho eficiente é deixar que o seu interlocutor pense ter vencido a discussão.
Não se trata de condescendência, o que seria reprovável, mas de uma iniciativa em prol do entendimento entre os convivas.
Ninguém muda a convicção — nem o time ou a fé — só porque o outro falou mais alto.
Os argumentos só melhoram se emitidos com suavidade respeitosa.
Por isso, quando alguém à sua mesa der sinais de que vai se exaltar, se apresse em levantar um brinde à harmonia.
Publicado originalmente na revista Veja.
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