Junte-se a mais de 100,000 pessoas que recebem conteúdos semanais por e-mail.
Lucilia Diniz desmistifica o que significa viver bem a vida, por dentro e por fora.
Para melhor aproveitar a experiência, convém não superestimá-la. Leia minha última coluna publicada na revista Veja.
Meu pulo do gato – Veja como perdi e mantenho longe mais de 60 quilos
Reeducação alimentar – Conheça o cardápio que mudou a minha vida
Neste momento em que, depois de tanto tempo de distanciamento social, as pessoas parecem superestimar a experiência de viajar, talvez seja oportuno relativizar as regalias proporcionadas pelas viagens.
Não me entenda mal, eu adoro viajar.
Sempre que posso ponho o pé na estrada e vivo dizendo aos meus amigos que é melhor sair de casa, nem que seja para tropeçar.
Só é preciso ter cuidado para não atribuir às viagens algo que elas não podem oferecer — a felicidade, por exemplo.
Rodar o mundo pode ser uma aventura gratificante — na medida em que permite o acúmulo de conhecimentos em primeira mão —, mas não faz com que o viajante se sinta mais feliz, a não ser por um momento fugaz.
Não é difícil entender a supervalorização das viagens nos dias de hoje.
Se muitas vezes a fonte de infelicidade é o estresse de um cotidiano entediante ou atribulado, a receita mais fácil para inverter a equação é quebrar a rotina, lançando-se além das fronteiras do bairro e da cidade em que se habita.
O embarque, porém, não estabelece uma divisória entre dois estados de espírito.
A pessoa que se ressente de um dia a dia desmotivante é a mesma que sobe no avião, desfaz as malas no hotel e se põe a caminhar por ruas desconhecidas.
A eventual virada de chave que muitos registram não tem a ver com geografia — é uma questão pessoal.
Não é mágica, é autoconhecimento.
Na minha experiência, as boas viagens superam com folga aquelas marcadas por algum dissabor.
Mas devemos levar em conta que há alguma distância entre a viagem que idealizamos e a que fazemos.
É uma distância que pode ser tão grande quanto aquela entre o ponto de partida e o destino final.
Projetamos a próxima com a alta expectativa gerada pelo relato em rede social ou pelo folheto da agência de turismo, em que tudo é perfeito, até o tempo no local a ser visitado, incluindo a suave brisa que agita as folhas de uma palmeira, como prova a imagem colorida.
Na vida real, no entanto, para além da narrativa exacerbada de amigos virtuais e da paisagem retocada do folheto de turismo, viagens são como tudo o mais na vida — têm aspectos positivos e negativos, que a memória se encarrega de reter ou descartar.
A viagem em si não é suficiente para dar respostas à monotonia, mas pode ajudar a sacudi-la.
Tudo depende de como a encaramos, das esperanças que nela depositamos.
A viagem ideal não depende do destino mas da disposição mental de quem a empreende.
Curiosidade é fundamental, assim como manter a mente receptiva ao que é diferente — o que vale para tudo, dos costumes à gastronomia local.
É preciso abordar os lugares que não conhecemos com a humildade de quem quer aprender.
Não se permita atulhar a mala com ideias rígidas sobre o que é interessante.
É aconselhável deixar algum espaço para o acaso.
Érico Veríssimo dizia: “Existem duas categorias de viajantes: os que viajam para fugir e os que viajam para buscar”.
Mais do que concordar com o escritor, eu me arrisco a completar seu pensamento ao dizer que, enquanto os primeiros são candidatos à decepção, os segundos estão inclinados a colher boa dose de satisfação por saberem extrair muito do relativamente pouco que uma viagem pode prover.
Nota: Meu sobrinho João Paulo nos deixou nesta semana.
Seu espírito determinado sempre engrandeceu o esporte, a saúde e o bem viver.
Encerrou sua viagem na terra tendo completado com louvor mais esta travessia.
Este artigo eu dedico a ele.
Publicado originalmente na revista Veja.
Junte-se a mais de 100,000 pessoas que recebem conteúdos semanais por e-mail.
Lucilia Diniz desmistifica o que significa viver bem a vida, por dentro e por fora.