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Vacinação sinaliza esperança de volta à normalidade. Leia meu artigo publicado na revista Veja.
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Estava na fazenda, no interior de São Paulo, praticando o distanciamento social em meio à natureza, quando minha filha Giovana foi me visitar.
Como fazíamos desde o início da pandemia, respeitamos os protocolos sanitários.
O brilho nos olhos traduzia nosso amor, mas a expressão do sentimento não se consumava no contato físico.
Era o Dia das Mães.
Sentamos distantes uma da outra e ela começou a me contar seus projetos de arquitetura, que exigem visitas a obras, uma exposição tão indesejável quanto inevitável.
Estava animada como uma criança que relata a realização de um sonho — era pura vibração com as conquistas pessoais e perspectivas profissionais.
De repente, num impulso, tomada pela emoção, aproximei-me e, sem tirar a máscara, dei-lhe um abraço.
Ela resistiu no primeiro momento, e posso imaginar tudo o que passou pela cabeça dela em um lapso, inclusive a preocupação em infectar a própria mãe.
Mas acabou cedendo e correspondeu.
Não foi um abraço qualquer.
Foi um abraço apertado, forte, demorado, um abraço que valeu por todos os que nos foram sonegados nos últimos meses.
Confesso que meu coração derreteu.
Posso ter errado, sim, mas as circunstâncias ofereciam atenuantes.
Sei que, apesar de ter de circular por obrigação profissional, minha filha sempre foi obcecada por segurança e nunca hesitou em seguir todas as recomendações das autoridades de saúde.
Além disso, eu já tomei a primeira dose da vacina, que, se não garante proteção total, eleva consideravelmente o grau de imunidade contra a Covid-19, sobretudo em sua forma mais grave.
O abraço é a manifestação mais universal de afeto.
Pessoas de todas as culturas se abraçam para demonstrar estima, amizade, ternura.
Dentro de um abraço, o mundo é quente, aconchegante.
Mário Quintana, mestre em definições poéticas simples, assim o sintetizou: é “coração com coração, tudo cercado de braço”.
O gesto tem lugar em encontros e despedidas.
Sela acordos.
Promove convergências.
Empresta afeição.
Melhora a humanidade.
O elogio ao abraço se faz mais necessário justamente agora, quando ele é posto sob suspeição, quando está proibido, quando provoca espanto.
Não se trata, claro, de insubordinação às regras difundidas por infectologistas.
Ao contrário, meu desejo não é diferente do da maioria: quero apenas que todos vivam de acordo com as regras que a pandemia nos obriga a seguir, para que assim possamos quanto antes nos abraçar de novo.
O Reino Unido, um dos países onde a vacinação está com maior cobertura, recentemente autorizou o abraço.
Não foi ainda uma liberação geral.
Os britânicos não saíram às ruas num congraçamento que lembrasse a recepção aos soldados que voltavam a seus país depois da II Guerra, que rendeu cenas icônicas de manifestação de uma alegria represada.
Ainda assim, é sintomático da ansiedade generalizada pela volta do abraço que o anúncio do premiê Boris Johnson tenha sido tratado como notícia de destaque no mundo todo.
É um sinal de esperança de que a normalidade pode voltar, desde que se faça o que se tem de fazer.
Como diria o cronista esportivo, é vacinar e correr para o abraço.
Aquele abraço.
Publicado originalmente na revista Veja.
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