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Encorajar é também fazer alguém encarar suas dificuldades. Leia meu artigo publicado na revista Veja.
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Quem escreve tem sua lista de temores associados à atividade.
A ideia que teima em escapar, a frustrante busca pela palavra exata, a incerteza sobre a adequação do tom, a tela vazia, onde um cursor piscando lembra que a passagem do tempo é insensível a prazos editoriais.
Mas o maior medo é não ser lido ou, pior, ser lido com indiferença.
Elogios não são apenas uma questão de gentileza.
Eles podem fazer a diferença entre o êxito e o fracasso de um aspirante a profissional.
Não me refiro àquelas palavras protocolares, mas à expressão de uma avaliação genuína, que procura no detalhe o motivo para reconhecer o engenho e a arte de quem escreveu.
Menciono a escrita por ser algo que, até por conta desta coluna, estou hoje mais afeita.
Mas o estímulo é algo decisivo para pretendentes a qualquer atividade, sobretudo os jovens, muitos deles talentosos e inseguros.
Às vezes subestimamos o poder do estímulo.
Costumamos refletir sobre o que fazer para mudar nossa vida, mas esquecemos de estimular quem está ao nosso redor.
Uma ajuda concreta ou uma palavra certeira têm o poder de renovar energias, encorajar, dar a confiança necessária para que um amigo, um colega, um parente, persista em seu objetivo.
O estímulo vem de muitas maneiras.
O incentivo financeiro nem sempre é o mais relevante.
Às vezes basta um conselho ou, quando for o caso, um bom puxão de orelha, de preferência com bom humor.
Como comentou Sigmund Freud, “brincando pode se dizer tudo, até a verdade”.
Há estímulos que vêm do exemplo.
Meu filho me acompanhava em palestras sobre dietas e, mais do que ouvir palavras, testemunhava minhas atitudes, minha mudança.
Dieta é como religião: não basta pregar, tem de mostrar benefício.
Há estímulos que vêm do apelo ao afeto.
Tive boas experiências com pessoas que mudaram depois que eu lhes disse: “Se você não consegue emagrecer por você mesmo, emagreça pelas pessoas que você ama”.
E há, ainda, os estímulos que funcionam com sinal trocado.
O pai diz ao garoto acima do peso: “Você nunca vai conseguir ficar três dias sem comer chocolate”.
Psicologia infantil básica.
Não deixa de ser um estímulo, ainda que pelo avesso.
Encorajar é também fazer alguém encarar suas dificuldades.
Uma vez superado o obstáculo, não há limites para o crescimento pessoal.
Crianças gagas podem se tornar palestrantes ou figuras públicas poderosas, como Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados, ou Joe Biden, presidente dos Estados Unidos.
Apoiar alguém é uma forma de cultivar talentos, não plantamos a semente da motivação, mas premiamos a força de vontade que há no outro.
É uma via de mão dupla.
Afinal, ao estimular alguém, construímos nosso próprio legado.
Impossível não lembrar de Antônio Carlos de Almeida Braga, que nos deixou recentemente.
Braguinha dedicou a vida à sua grande paixão: o esporte. Apoiou as carreiras de Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna, Pelé, Guga e revolucionou o vôlei em nosso país.
Histórias assim devem servir de provocação.
Qual foi a última vez que você incentivou alguém?
Quem poderia receber sua ajuda hoje?
São questionamentos necessários, se quisermos deixar um legado do qual nos orgulhamos.
Publicado em Veja de 3 de fevereiro de 2021, edição nº 2723
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