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Lucilia Diniz desmistifica o que significa viver bem a vida, por dentro e por fora.
Nossas escolhas tecnológicas têm impacto sobre nossa saúde. Leia meu artigo publicado na revista Veja.
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Outro dia flagrei uma discussão, típica dos dias que correm, entre uma mãe e o filho pequeno.
A criança queria porque queria a Alexa, a assistente virtual da Amazon.
A mãe resistiu: “Por que você quer isso?”.
E ouviu uma resposta preocupante: “Para não ter que levantar da cama e apagar a luz enquanto estou no celular”.
A Alexa, como se sabe, é aquele dispositivo diabolicamente esperto que comanda à distância vários aparelhos da casa, da televisão ao ar-condicionado, passando pelos interruptores, o aspecto que chamou a atenção do menino.
A cena me fez refletir sobre a incrível sedução que essas inovações exercem sobre as pessoas.
O carro que dispensa motorista, o patinete motorizado que rouba espaço das bicicletas no calçadão da praia, o aplicativo que transcreve falas, evitando a digitação mecânica, o robô que aspira a casa – este um sucesso em tempos de confinamento.
Para onde se olhe, uma engenhoca promete alguma vantagem que não implique em gasto de energia pessoal.
O fenômeno se intensificou, mas não é recente.
Muitos aparelhos estão tão arraigados ao nosso cotidiano que é difícil lembrar como fazíamos antes de terem sido inventados.
São coisas banais, como o descascador de batatas ou o controle automático das janelas dos carros.
Depois deles, cozinheiros e motoristas investiram em tarefas mais nobres do que tirar a pele do tubérculo ou girar uma manivela.
Por falar em carros e antiguidades, não custa lembrar que a história das invenções começou lá atrás, com a roda, que poupou a Humanidade de longas caminhadas.
Como diz Mário Quintana, “a preguiça é a mãe do progresso”.
O progresso é mesmo um bom filho.
O progresso material, da ciência, do conhecimento, da tecnologia, é sempre bem-vindo.
Nesse campo, não há lugar para nostalgias, para o surrado “bom mesmo era quando…”.
Essa atitude remete ao ludismo, aquele movimento dos trabalhadores ingleses que, no século XIX, quebravam as modernas máquinas de tecelagem como forma de protesto contra a Revolução Industrial.
Mas, se o progresso é um bom filho, para voltar à imagem do poeta, o problema é sua mãe – a preguiça.
Gostaria de propor um novo olhar sobre o consumo de serviços e produtos que induzam ao sedentarismo excessivo.
O homem é, historicamente, um animal sedentário.
Faz tempo isso – desde que, há uns milênios, deixou de ser caçador para desenvolver a agricultura.
O problema atual é o sedentarismo elevado à enésima potência.
É isso que, em nome da saúde individual e coletiva, deve ser combatido.
É tudo uma questão de gradação.
Uma coisa é acionar o controle remoto da TV, para não ter que levantar a cada minuto enquanto estiver zapeando.
Outra coisa é ter preguiça de dar uns passos uma única vez à noite e apagar a luz do quarto, para ficar com o exemplo do nosso candidato mirim a preguiçoso mor.
Nossas escolhas tecnológicas têm impacto sobre nossas vidas.
É preciso, portanto, que sejam conscientes.
Nada contra o progresso, nada contra a Alexa.
A questão, desde sempre, é o uso que fazemos das tecnologias disponíveis.
Uma faca pode ferir ou cortar o queijo.
E por falar em queijo: “Alexa, quanto tempo de caminhada na esteira para perder 300 calorias?”
Publicado originalmente na revista Veja.
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