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Pero Vaz de Caminha tinha razão quando, logo que aqui chegou, percebeu a riqueza do solo. Leia meu artigo publicado na revista Veja.
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Café é coisa nossa?
E manga?
E batata, alface, são coisa nossa?
Esses e outros produtos são tão populares no nosso dia-a-dia que os consideramos brasileiros de origem.
Eles são nacionais legítimos, sim, mas por adoção.
Trazidos para cá há séculos, se adaptaram tão bem que temos a impressão de que estiveram sempre por aqui.
Embora nada tenha mais a cara do Brasil do que o café, na sua certidão de nascimento consta a Etiópia como local de nascimento.
Segundo a lenda, um pastor do país africano, tendo alimentado suas cabras com certo fruto avermelhado, percebeu que o rebanho se tornou mais animado e inquieto.
Assim teria sido descoberto o conhecido poder estimulante da cafeína.
O nome “café”, aliás, faz referência a essa propriedade.
No Iêmen, no Oriente Médio, onde o fruto primeiro se popularizou, a bebida era chamada de Kahwah ou Cahue, que significa “força” em árabe.
O termo foi aportuguesado no século VIII, quando aportou por aqui.
E as brasileiríssimas alface e batata?
A folha mais comum das nossas saladas também é estrangeira.
Ela vem do leste do Mediterrâneo, e também foi importada pelos colonizadores.
Há registros de mais de 4 mil anos indicando que os egípcios já consumiam essa hortaliça no tempo dos faraós.
Quanto à batata, é natural da região onde hoje fica o Chile.
Populações indígenas instaladas ao longo da Cordilheira dos Andes consomem o tubérculo há mais de 8 mil anos.
Os colonizadores espanhóis levaram a batata para a Europa, onde ela se tornou base de incontáveis pratos populares.
Fácil de ser cultivada, ganhou o mundo. Por aqui, fez tanto sucesso que rivalizou com a mandioca – essa, sim, brasileira “avant la lettre”.
Uma fruta que esconde muito bem a procedência é a manga.
A cor, o aroma, a exuberância, a suculência, a doçura, a tropicalidade, tudo na manga remete ao melhor do Brasil.
E no entanto a “nossa” manga não é nossa – é asiática, mais especificamente do sudeste daquela região tão remota.
A fruta é até um símbolo nacional da Índia, com direito a poemas e canções de mais de mil anos que lhe prestam homenagens.
Para variar, chegou a portos pátrios a bordo das caravelas dos portugueses.
Se quisermos algo genuinamente brasileiro, então temos que olhar para a floresta.
A jabuticaba, por exemplo, é nativa da Mata Atlântica.
É tão brasileira que virou metáfora para algo típico do país, em geral algo negativo – o que é uma injustiça para com a fruta.
Menos conhecido é o cambuci, originário do mesmo ecossistema.
A fruta já teve seus quinze minutos de fama, quando emprestou seu nome a um tradicional bairro paulistano.
Mais tarde, voltou a ganhar destaque, mas pelo motivo errado – porque esteve ameaçada de extinção, devido à exploração comercial da madeira da sua árvore.
Para sorte da nossa culinária, o cambuci – nome indígena que designa que o pote de cerâmica ao qual a fruta de assemelha – sobreviveu, e tem sido encontrado por aí, sobretudo em geleias, mousses e bolos.
A história do café, da batata, da alface, da manga – e até da jabuticaba e do cambuci – mostra que Pero Vaz de Caminha tinha razão quando, logo que aqui chegou, em 1500, escreveu ao rei dom Manuel cunhando a expressão de que no Brasil “em se plantando, tudo dá”.
Parabéns ao agro pelo papel decisivo na construção desta marca que nos orgulha, a todos os brasileiros.
Publicado originalmente na revista Veja.
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