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Lucilia Diniz desmistifica o que significa viver bem a vida, por dentro e por fora.
Bilionários americanos acreditam que a morte é “um problema a ser resolvido”. Leia minha última coluna publicada na revista Veja.
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Reza a lenda que, no final do século passado, um já nonagenário Roberto Marinho, ao tratar de assuntos ligados ao futuro da Rede Globo, iniciava a conversa mencionando ao interlocutor uma variável que desafiava os limites da biologia.
“Se um dia eu vier a faltar…”, comentava, emprestando um componente de dúvida à única certeza da vida.
Embora o empresário sublinhasse a frase com um sorriso discreto, o absurdo do condicional não deixava de expressar o desejo real de alcançar, se não a imortalidade, ao menos uma longevidade inaudita.
Flertar com a ideia de incorporar um Matusalém – o personagem bíblico que viveu por 969 anos – é algo que vem escapando da esfera da pura fantasia para ganhar contornos reais.
Não estou me referindo apenas aos avanços da geriatria, que têm agregado mais e melhores anos de vida a quem se dispuser a seguir suas recomendações.
Meu irmão Abílio, por exemplo, que sempre se interessou em pesquisar o tema, chegou a ter um especialista que rodava o mundo em congressos atrás de novos estudos.
Num de seus aniversários, ele reuniu na cidade portuguesa de Sintra os maiores especialistas em longevidade do planeta para discutir o tema com convidados.
Hoje, no entanto, a pesquisa científica de ponta procura extrapolar as fronteiras dessa modalidade da medicina, limitada ao estudo das doenças associadas ao envelhecimento.
Bilionários americanos estão financiando iniciativas no Vale do Silício associadas a experiências moleculares com vistas a retardar o envelhecimento natural.
Contra todas as probabilidades, mentes brilhantes e regiamente remuneradas procuram reprogramar as células que formam o corpo humano, fazendo com que recuperem a maleabilidade típica da juventude.
Voltar no tempo, como se sabe, é atributo de ninguém menos do que o Super-Homem.
A excepcionalidade da ficção, porém, não desencoraja pessoas como Peter Thiel, um dos fundadores do PayPal, para quem a morte é “um problema que precisa ser resolvido”.
Sobre a nossa finitude, o magnata já declarou ser “contra”, chiste que mal dissimula a arrogância.
Se o elixir da vida eterna está fora do seu alcance, no entanto, a longevidade inimaginável poderia estar no horizonte.
E aí ele não está mais brincando, ou não teria despejado milhões de dólares em um projeto para viabilizar uma existência de 150 anos.
Nossa expectativa de vida vem aumentando exponencialmente.
O resultado se deve a uma composição de fatores, entre os quais se destacam a maior atenção ao saneamento básico, a democratização do acesso à saúde e os avanços da medicina, que conta com medicamentos cada vez mais eficientes.
Segundo a ONU, a média da expectativa passou de cerca de 50 anos, para a geração nascida nos anos 60, para mais de 75.
Apesar da alta expressiva, ainda é a metade da meta de Thiel.
Pensando bem, e considerando as excelentes surpresas da ciência – como o desenvolvimento em tempo recorde das vacinas contra a Covid – talvez ele devesse ter cuidado com o que deseja.
Afinal, quem almejaria, de verdade, assoprar as velinhas do seu bolo de sesquicentenário?
Publicado originalmente na revista Veja.
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