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Lucilia Diniz desmistifica o que significa viver bem a vida, por dentro e por fora.
Situações de isolamento têm um limite, dependem de cada pessoa. Leia meu artigo publicado na revista Veja.
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Ninguém vive apartado da sociedade, dos amigos, dos parentes por um tempo que parece não ter fim.
O limite é variável, depende de cada pessoa, de seu temperamento, das circunstâncias, do planejamento.
No início da pandemia, houve quem projetasse cem dias de reclusão, achando talvez que estivesse arredondando para mais o período de confinamento.
Hoje já estamos em cinco meses — e contando.
É natural que assim seja.
O ser humano é gregário por natureza.
Lembro-me de Tom Hanks, em Náufrago, que, para amenizar os efeitos do isolamento numa ilha deserta do Pacífico, durante quatro anos conversou com uma bola de vôlei, a quem chamava de Wilson.
Por fim, entre a perspectiva de continuar sobrevivendo sozinho à base de monólogos intermináveis e a possibilidade remota de voltar à civilização a bordo de uma jangada improvisada, ele não teve dúvida em arriscar tudo; havia chegado a seu limite.
Qual é o seu limite?
Provavelmente depende de uma série de fatores.
Limites são elásticos, vão sendo reconfigurados a partir da realidade que se impõe, e o que ontem era inaceitável hoje pode ser perfeitamente possível.
Outro dia recebi pelo WhastApp uma mensagem que, lida em meio às incertezas atuais, provoca um riso nervoso: “O primeiro ano da quarentena sempre é o mais difícil”.
Tenho reparado que o stress provocado pelo novo coronavírus está dividindo os brasileiros em dois estados de espírito: o perseverante e o ansioso.
Não os vejo como categorias estanques, elas estão presentes em cada um de nós.
Convivemos, imagino, com um pouco de um e do outro.
Um dia acordamos determinados a nos manter fiéis à rotina autoimposta, mas à tarde fraquejamos e ficamos afoitos para dar uma voltinha no quarteirão.
O perseverante e o ansioso que nos habitam são o anjo e o diabo da nossa consciência, dizendo o que devemos fazer ou o que estamos perdendo por agir assim.
“Continue se preservando”, diz o primeiro.
“Que nada! A vida não espera”, diz o segundo.
Um apela à saúde física, o outro à sanidade mental.
Percebo que o diabinho está sendo cada vez mais ouvido.
Entre os que se mantêm no isolamento, há quem se sinta um idiota ao ver amigos levando uma vida normal.
A humanidade parece ter desenvolvido uma capacidade de subestimar o perigo.
No começo da quarentena, li que o isolamento exigido por uma epidemia costuma acabar antes de a cura ser encontrada.
Foi assim no fim da I Guerra Mundial, em 1918: após o anúncio do cessar-fogo, as pessoas saíram às ruas para comemorar, esquecendo-se que a gripe espanhola ainda não havia sido debelada.
Diante de tantas dúvidas sobre o que fazer, o meio-termo parece ser uma alternativa razoável.
Sair às ruas, mas sem se expor.
Ficar em casa, mas sem enlouquecer.
Num cartum que vi recentemente um personagem comenta: “Fico me perguntando como seria minha vida se eu tivesse feito outras escolhas”.
E o outro, com cara de tédio, responde: “Você estaria se perguntando como seria a sua vida se tivesse feito outras escolhas”.
O importante, acredito, é que essas escolhas, quaisquer que possam ser, sejam conscientes.
O que você acha, Wilson?
Originalmente publicado na revista Veja.
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