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Cantinas de escolas públicas deveriam oferecer cardápio rico em nutrientes. Leia meu artigo publicado na revista Veja.
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Não faz assim tanto tempo que os conceitos de gordura e saúde se embaralhavam entre leigos bem intencionados.
Muitos de nossos avós, por exemplo, achavam que havia alguma coisa errada com os netos mais magrinhos.
Essas crianças, eles imaginavam, estariam vulneráveis a doenças, teriam o crescimento comprometido, não aprenderiam direito a tabuada.
Pois esse tempo passou, e tais conceitos foram superados.
Hoje, a obesidade infantil é, corretamente, considerada pela medicina como um problema a ser enfrentado.
As escolas públicas, no entanto, parecem relutar em adotar práticas condizentes com a visão baseada na ciência.
Basta observar o que, com frequência, ocorre com as refeições oferecidas aos alunos.
Nos sites das prefeituras, os cardápios em geral parecem balanceados, o que atende às exigências legais.
Nas mesas, no entanto, a realidade nem sempre corresponde ao anunciado.
Proteínas e legumes frescos – que compõem a parte nutricional mais importante da dieta – muitas vezes não estão presentes.
E sobra carboidrato: arroz, batata, bolacha, macarrão.
Não por coincidência, os alimentos do primeiro grupo são mais caros do que os do segundo.
Sei por experiência própria que políticas públicas voltadas à alimentação das crianças não são fáceis de serem implantadas.
No período em que José Serra foi governador de São Paulo, estive envolvida em um projeto-piloto por iniciativa da primeira-dama, Mônica Serra, no âmbito do Fundo Social da administração paulista.
A ideia passava pelo uso integral dos alimentos e a eliminação de desperdícios.
Mas às vezes faltavam insumos ou treinamento adequado das merendeiras.
O almoço e o lanche nas escolas públicas costumam ser a principal refeição de muitas crianças.
A pandemia escancarou essa realidade, tanto que muitos governos, como o de São Paulo e do Rio de Janeiro, passaram a dar às famílias um auxílio-merenda, como forma de compensar a falta das refeições devido à suspensão da presença dos alunos nas escolas.
Agora, com a volta às aulas presenciais, temos mais uma a oportunidade de debater a alimentação ideal, sobretudo para a faixa etária que frequenta o ensino fundamental.
No Rio de Janeiro, por exemplo, os vereadores estão debatendo a predominância de alimentos ultraprocessados nos lanches nas cantinas de escolas públicas e privadas.
As crianças de um modo geral gostam de biscoito recheado, cachorro-quente e achocolatados, mas ainda, é claro, não têm discernimento para avaliar o poder nutritivo do que ingerem.
O problema é maior para as crianças de escola pública, que com frequência não têm acesso aos principais nutrientes em casa.
A lei é importante, mas não é suficiente.
A sociedade precisa estar atenta para checar se ela está ou não sendo cumprida.
Executivos, docentes, representantes da sociedade civil e pais deveriam aproveitar o momento de volta às escolas para começar a elaborar um projeto de alimentação viável e consistente.
Ter vontade política é um começo.
Mas é preciso também organização, esforço logístico que favoreça a compra de insumos adequados, treinamento de profissionais, distribuição ágil de alimentos e contratos bem amarrados com fornecedores.
Dá trabalho, sim.
Mas dá para fazer.
Publicado originalmente na revista Veja.
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