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Lucilia Diniz desmistifica o que significa viver bem a vida, por dentro e por fora.
Se deixar, comemos doces e coisas gordurosas até estourar. Aparentemente, esta é a lógica. Mas nosso corpo está equipado com uma inteligência inata e instintiva para garantir a melhor nutrição.
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Pelo que aprendemos na escola, a evolução da raça humana se deu pela busca incessante por calorias que fornecessem energia para nos manter vivos.
E o grande salto se deu após a descoberta do fogo, que permitiu diversificar o consumo da caça através do cozimento das carnes.
Afinal, alimentos de origem animal contêm bem mais calorias e nutrientes que a maioria dos alimentos vegetais, predominantes na alimentação da espécie até então.
E este comportamento, programado a nível genético, segue guiando nossos hábitos alimentares até hoje, ainda que ninguém gaste o tanto de energia que gastavam os homens das cavernas.
Mas surge uma controvérsia nesta narrativa.
Aparentemente, nossas escolhas podem ser mais inteligentes do que se pensava anteriormente e influenciadas pelos nutrientes específicos, em vez de apenas calorias, de que precisamos.
É o que revela um estudo internacional, liderado pela Universidade de Bristol (Reino Unido).
O trabalho se propôs a reexaminar e testar a visão amplamente difundida de que os humanos evoluíram para favorecer alimentos densos em energia e nossas dietas são equilibradas simplesmente pela ingestão de uma variedade de alimentos diferentes.
Mas a descoberta contraria essa crença.
Isso porque as pessoas parecem ter uma “inteligência nutricional”, segundo a qual selecionamos inconscientemente uma parte do que comer para atender às nossas necessidades de vitaminas e minerais e assim evitar deficiências.
“Os resultados de nossos estudos são extremamente significativos e bastante surpreendentes”.
A declaração é de um dos autores do estudo, professor Jeff Brunstrom.
“Pela primeira vez mostramos que os humanos são mais sofisticados em suas escolhas alimentares e parecem selecionar com base em micronutrientes específicos, em vez de simplesmente comer tudo para obter o que precisam”.
A descoberta revalida a pesquisa ousada realizada na década de 1930.
Nela, a pediatra americana Dra. Clara Davis colocou um grupo de 15 bebês em uma dieta que lhes permitiu “auto-selecionar” (em outras palavras, comer o que quiser) dentre 33 alimentos diferentes.
Embora nenhuma criança tenha comido a mesma combinação de alimentos, todas alcançaram e mantiveram um bom estado de saúde, o que foi tomado como evidência de “inteligência nutricional”.
A pesquisa atual recriou o experimento com 128 adultos em um ambiente controlado.
Como resultado, os voluntários preferiram certas combinações de alimentos mais do que outras.
Por exemplo, maçã e banana foram mais escolhidas com um pouco mais de frequência do que maçã e amoras.
Essas preferências parecem ser previstas pelas quantidades de micronutrientes em um par e se sua combinação fornece um equilíbrio de diferentes micronutrientes.
Para confirmar isso, foi feito um segundo experimento com refeições convencionais.
Pois o resultado veio da mesma forma, com os dados demonstrando que as pessoas combinam as refeições de uma maneira que aumenta a exposição a micronutrientes em sua dieta.
E o que isso prova?
Este estudo fornece novas evidências de que a composição de micronutrientes influencia a escolha de alimentos (uma forma de “sabedoria nutricional”).
E também expõe o potencial de uma complexidade na tomada de decisão alimentar humana que não foi reconhecida anteriormente.
Longe de serem generalistas um tanto simplórios, como se acreditava anteriormente, os humanos parecem possuir uma inteligência perspicaz quando se trata de selecionar uma dieta nutritiva.
Então, deveríamos ser um povo naturalmente em forma, que só faz as melhores escolhas.
O que se vê, entretanto, mostra que a cultura alimentar em que estamos inseridos altera o instinto.
Obviamente, a indústria força esta tendência.
Estudos mostraram que os animais usam o sabor como um guia para as vitaminas e minerais de que necessitam.
Se o sabor desempenha um papel semelhante para os humanos, então podemos estar imbuindo junk food, como batatas fritas e refrigerantes, com um falso “brilho” de nutrição, através de químicas que mimetizam sabores.
Em outras palavras, a indústria alimentícia pode estar virando nossa sabedoria nutricional contra nós, fazendo-nos comer alimentos que normalmente evitaríamos e, assim, contribuindo para a epidemia de obesidade.
O estudo foi publicado na revista científica Appetite.
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