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Economia está frágil por conta da pandemia e pode piorar; existe o risco de inflação com estagnação, conhecido como estagflação. Leia a coluna de Luiz Carlos Trabuco Cappi publicada no Estadão.
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Desde julho de 1994, quando o real entrou em vigor, até hoje, a inflação acumulada foi menor do que a observada nos seis meses que antecederam sua implantação.
Às vésperas de completar 27 anos, é a nossa segunda moeda mais duradoura.
A primeira, coincidentemente, era homônima, e vigorou desde o Brasil Colônia até 1942, quando foi substituída pelo cruzeiro e depois por outras até chegar a atual.
A estabilidade da moeda foi um processo demorado que começou há mais de meio século e teve que superar algumas crises nesse caminho.
É resultado de um aprendizado da sociedade e de progressos institucionais como as metas de inflação e as restrições fiscais.
É um avanço que tem de ser defendido, tornou-se patrimônio de todos.
O real estável tem um impacto positivo no investimento, na distribuição de renda e na intermediação financeira, com juros reais mais baixos.
Por outro lado, a moeda inflacionada funciona como um imposto sobre a renda de todos, em especial as mais baixas, o que acentua a desigualdade.
Afeta adversamente o consumo, o emprego e a inadimplência.
Neste momento, os índices de preços estão dando um sinal de alerta.
O IPCA, que indica a inflação oficial, objeto de atuação da autoridade monetária, registrou uma alta acumulada de 6,1% em 12 meses.
O índice de abril, que sai amanhã, pode ser menos da metade do de março, todavia, superior ao de um ano atrás, fazendo que o acumulado em 12 meses aumente ainda mais.
O INPC, que é a inflação da classe cuja renda vai até cinco salários mínimos, registra 6,9%, e o IGP-M, que é utilizado para reajustes de aluguéis e outros contratos, acumula 32% em 12 meses.
As expectativas de inflação estão aumentando.
Para este ano, o IPCA projetado no Boletim Focus subiu de 3,3% para 5,04%, abaixo do teto da meta.
A memória da indexação torna a inflação mais resiliente no Brasil do que em outros países.
É o motivo pelo qual a sua aceleração precisa ser combatida rapidamente.
Ela sobe de elevador e desce de escada.
As projeções são de um arrefecimento das taxas nos próximos meses.
O IPCA-15 de abril, divulgado no último dia 27, veio abaixo das expectativas e do índice de março.
A atividade econômica fraca também atua como um freio da alta de preços.
A inflação observada até agora é primordialmente consequência da alta do preço das commodities no exterior, que não deve continuar a pressionar muito, e do dólar.
Mesmo assim, é necessário se preocupar com o tema.
A economia está frágil por conta da pandemia e pode piorar.
Existe o risco de inflação com estagnação, conhecido como estagflação.
A alta das expectativas de inflação vem por outro canal: o da preocupação com o crescimento dos gastos públicos.
Um déficit fiscal maior pressiona os preços e é o que está acontecendo.
No ano anterior à pandemia, o governo conseguiu estabilizar a relação dívida/PIB e aprovar a reforma da Previdência, mas a crise sanitária impôs gastos extraordinários.
O razoável seria um ajuste maior para compensar o aumento da dívida.
Não é o que se observa.
No mês anterior à pandemia, a Instituição Fiscal Independente projetava déficits primários até 2025; no último relatório alongou essa previsão para até 2030.
Em um ano de pandemia, além de aumentar a dívida, a dinâmica fiscal piorou, em vez de melhorar.
O orçamento de 2021, que foi apresentado em agosto do ano passado, só foi aprovado no mês passado.
Ao criar espaços para crescimento de gastos, gerou mais incertezas fiscais.
Isso tem impactos na cotação do dólar que se propagam para toda a matriz de preços da economia.
Por enquanto é só um sinal de alerta.
O Banco Central iniciou preventivamente um ciclo de elevação da Selic.
A alta dos juros básicos funciona como freio na inflação, e o aumento dos gastos públicos como acelerador.
Portanto, não faz sentido pisar nos dois pedais ao mesmo tempo.
Nesse endereçamento, aumenta-se ainda mais a relevância das políticas monetária e fiscal na condução das expectativas.
Publicado originalmente em O Estado de S. Paulo.
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