Ora, pitombas

Aviões cruzam os céus trocando frutos exóticos enquanto o Ano Internacional das Frutas e Vegetais não decola. Leia meu artigo publicado na revista Veja. Leia mais: Reeducação alimentar – Conheça o…

Tempo de leitura: 6 min.

Aviões cruzam os céus trocando frutos exóticos enquanto o Ano Internacional das Frutas e Vegetais não decola. Leia meu artigo publicado na revista Veja.

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A ONU declarou 2021 como sendo o Ano Internacional das Frutas e Vegetais.

Obviamente, esta decisão não foi tomada ontem.

Mas pouco ou nada se ouviu falar de uma coisa tão importante que deveria inspirar milhões a comer frutas.

Ao menos, mais pitombas.

Sim, aquela frutinha do Nordeste que rompemos com o dente, para então desfrutarmos da polpa carnuda que é doce e azedinha ao mesmo tempo.

Sem falar que é excelente fonte de fibras, ferro, cálcio e vitamina C.

Ora, a pitomba é fruta nativa do Brasil, país tropical por natureza e onde, em se plantando, tudo dá.

Abençoado, portanto, com o potencial de produzir toneladas e toneladas de frutas sem fim, certo?

Na verdade, o mais provável é encontrar pitayas que pitombas na quitanda da esquina.

Eis aí que o assunto pode nos engasgar.

A pandemia mostrou que consumir alimentos naturais e que fortaleçam a saúde e as defesas do organismo é uma boa ideia.

Tendência que impulsiona a procura por frutas.

Do lado de cá, como país produtor, em pleno ano de pandemia e isolamento social, as exportações de frutas cresceram.

De olho no sistema imunológico, o destaque ficou para as frutas cítricas, como o limão.

Só que, das fronteiras para dentro, o cenário é bem diferente.

Apenas um quarto dos brasileiros ingere a quantidade de frutas e hortaliças recomendada pela OMS – Organização Mundial da Saúde.

São muitos os fatores desse baixo consumo, dentre eles a menor escolaridade e renda.

Entretanto, mais do que nunca, a hora de se conformar com esta situação passou.

Do ponto de vista ambiental, se trata de um absurdo sem tamanho exportar as frutas que deveriam alimentar milhões de pessoas a baixo custo, para então importar outras, exóticas, exuberantes e mais caras.

E que deixam, em seus países de origem, a mesma paisagem alimentar para trás.

Não faz sentido trançar os céus com aviões trocando pitombas por pitayas!

Entretanto, romper com uma cadeia produtiva estruturada não se trata de uma revolução inconsequente.

E culpar a crise pela falta de mexericas em casa não basta, já que bolachas recheadas estão sempre à vista pelos lares brasileiros.

Ou seja, mais uma vez, a solução se dá pela cultura.

Inúmeros estudos já provaram que hábitos alimentares saudáveis são criados a partir de outros comportamentos saudáveis.

Quem tem maior preocupação com a saúde, como pessoas que praticam atividade física, já apresentam maior consumo regular de frutas.

Exatamente porque uma coisa puxa a outra.

Portanto, não deixemos de impulsionar o Ano Internacional das Frutas e Vegetais com o entusiasmo que merece!

A ponto de incentivar os países, com o poder de seus governos, a promoverem políticas alimentares mais realistas e justas, com os recursos presentes, que podem brotar por aí – e ainda dar sombra.

De minha parte, contribuo até com ficção pois, se você quer saber, nunca comi pitomba alguma!

Pude descrever a experiência apenas pelo que pesquisei sobre ela. Infelizmente, por enquanto é mais fácil eu encontrar pitayas.

Mas não vejo a hora de aumentar o meu consumo de frutas com esta pequenina nordestina.

Ainda mais depois de saber que é prima da lichia, que adoro – de verdade.

Publicado originalmente na revista Veja.

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