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No pós-pandemia, poderão faltar talentos na cozinha e nos salões. Leia meu artigo publicado na revista Veja.
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Já começam a aparecer as mesas do lado de fora.
É primavera no Hemisfério Norte, e os restaurantes se preparam para receber de volta o público ao ar livre.
A ansiedade é grande.
Afinal, lá foi feito o lockdown autêntico.
Na Europa, continente hoje proibido para brasileiros, a vida se encaminha para um novíssimo normal.
Coisa de quem tem experiência com pestes e guerras.
Agora, finalmente todos podem sair de casa sem medo.
No Twitter, o presidente francês convida a “redescobrir as coisas que constituem a arte de viver”.
Em Portugal, um dos países muitos correm neste momento para aproveitar a liberdade – acomodando-se nas mesas das disputadas esplanadas da terrinha, e procurando o garçom para fazer um pedido.
Mas hoje, o garçom não veio trabalhar.
Nenhum deles.
É o que tem acontecido do outro lado do balcão em bistrôs, cafés e restaurantes.
Ninguém quer trabalhar enquanto todos se divertem.
Em Miami, o restaurante Ariete precisa de dezenas de garçons e de cozinheiros de preparação.
O chef de massas não apareceu para o plantão – e nem ligou para avisar; um sub-chef teve de tomar rapidamente o seu lugar.
Na Austrália, faltam atendentes para servir turistas na Grande Barreira de Corais.
São oferecidos o equivalente a RS 8 mil como bônus, mais a passagem, para quem quiser se candidatar.
Qual seria o motivo?
Alguns analistas atribuem isto a uma recuperação econômica não tão forte quanto parece.
Eu vejo outra coisa.
Ao jornal Le Parisien, o chef Thierry disse porque deixou seu posto.
“Um dia me perguntei: ‘Além do meu trabalho, o que tenho feito com minha vida?’”.
Parece que, ensaiando o fim da pandemia, muitos viram uma oportunidade para reescrever suas biografias.
E nela estão se jogando de cabeça.
Em todo o mundo, os objetivos de longo prazo deixaram de ser os únicos; o tempo presente ganhou mais valor.
Afinal, quem deseja voltar a cumprir longas jornadas noite adentro, em ambientes estressantentes, sobrando pouco tempo para os amigos e a família?
Os jovens chefs, em particular, sentem-se nada atraídos em seguir sob estas condições.
Muitos pensam em voltar a estudar, para tentarem outra carreira.
Hoje, vale buscar o prazer de se envolver em novas atividades.
E uma mudança bem-vinda nem precisa necessariamente nos tirar do lugar.
Um chef francês que não quis voltar à roda-viva do salão agora trabalha na cozinha de um retiro, por exemplo.
Em pleno 2021 está claro que o futuro como imaginávamos simplesmente não aconteceu.
Não temos viagens espaciais cotidianas.
A longevidade ainda precisa ser mais saudável.
Epidemias e conflitos persistem.
As dificuldades não foram superadas, só mudaram de nome.
A verdade é que não vemos a hora de acabar esta pandemia porque vivemos de começos.
Pela energia irresistível que acompanha a tentativa de algo novo.
Pela oportunidade de recomeçarmos com mais inteligência.
De recomeços eu entendo – e recomendo.
Mas, diferentemente do que encarei, desta vez ninguém está sozinho.
Pela primeira vez, o reinício é coletivo.
Todos nós podemos aproveitar este mesmo momento apenas experimentando algo pela primeira vez.
E enriquecer nossas vidas com inícios, prestando menos atenção ao resultado final.
Publicado originalmente na revista Veja.
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