Junte-se a mais de 100,000 pessoas que recebem conteúdos semanais por e-mail.
Lucilia Diniz desmistifica o que significa viver bem a vida, por dentro e por fora.
Em economia, concorrência é o estímulo mais eficaz para que as coisas deem certo. Leia a coluna de Luiz Carlos Trabuco Cappi publicada no Estadão.
Ponto de partida – Desafios econômicos que devemos enfrentar
A distopia do novo anormal – Como será a vida pós-pandemia?
O novo marco legal do saneamento, aprovado pelo Congresso no dia 24 do mês passado, é uma dessas notícias que devemos celebrar.
A primeira implicação, e a mais importante, é que ele permitirá a extensão de água tratada e esgoto a milhões de brasileiros até agora privados deste direito fundamental.
Pode-se apenas imaginar o impacto na saúde e no bem-estar dessas pessoas, e os ganhos de inclusão social que com isso se conquistam e que se multiplicam.
Adultos saudáveis são mais produtivos, crianças saudáveis têm desempenho melhor na escola
O novo marco facilita a participação de empresas privadas nas novas obras de saneamento e, depois, na sua operação.
A meta da nova legislação, a que se obrigam as empresas que ganharem licitações nessa área, é que até 2033 a água tratada chegue a 99% da população e o serviço de esgoto a 90%.
Isso demandará investimentos da ordem de R$ 700 bilhões, ou mais, ao longo dos próximos anos.
Comparando, esse é o valor do déficit público presumido para 2020.
Estima-se, especialmente, a criação de um milhão de empregos em obras de infraestrutura e, mais tarde, no manejo dos sistemas de tratamento de água e esgoto.
A regulação do setor mitiga os riscos de insegurança jurídica.
É uma bandeira verde para os investidores, a exemplo dos setores de telefonia, nos anos 1990, e energia, nos anos 2000.
Investimentos e empregos virão em boa hora.
Em consequência da pandemia do coronavírus, que provocou recessão e desemprego, o Brasil não terá anos fáceis.
União, Estados e municípios não poderão arcar com investimentos de vulto em obras.
Com o incentivo da nova legislação, a iniciativa privada pode assumir esse papel, com presteza e eficiência.
Já vimos isso ocorrer em várias concessões feitas pelo poder público, como estradas, aeroportos e portos.
Essas obras são transformadoras. Também motivam muitos empregos indiretos e geram cadeias produtivas.
O novo marco regulatório desnuda um dos déficits sociais mais agudos do País.
É surpreendente que tantas gerações tenham convivido com problema dessa gravidade.
Saneamento básico, água e esgoto tratados, coleta de lixo e sua correta disposição é o mínimo que uma sociedade pode oferecer aos cidadãos.
É uma questão de saúde em primeiro lugar, mas é também uma questão de dignidade e cidadania.
O novo marco legal é ferramenta poderosa no equilíbrio ambiental e na redução da poluição e seus diversos impactos.
Hoje, numa população de 210 milhões de pessoas, quase a metade não tem acesso à rede de esgoto.
Mais de 35 milhões não têm água tratada em seus domicílios.
Em milhares de municípios, a população convive com lixões infectos a céu aberto; pelas novas regras, os prefeitos terão de extingui-los até 2024.
Podemos imaginar a pressão que a falta de saneamento básico faz sobre o setor público de saúde.
É enorme, e continua crescendo.
Em muitos aspectos, o Brasil é um país moderno.
Tem uma economia grande e complexa, boas universidades e centros de pesquisa, uma sociedade civil forte e ativa, democracia, instituições sólidas e funcionais.
Entretanto, lamentavelmente, negligenciamos por tanto tempo algo tão fundamental e civilizatório quanto o tratamento correto da água, do esgoto e do lixo.
Com essas novas normas, é possível atingir a meta de universalização dos serviços de água e esgoto em 2033.
Até hoje, os municípios delegavam esses serviços a companhias estaduais.
Estas operavam sem compromisso com esse objetivo.
A partir de agora, terão de participar de licitações juntamente com empresas privadas e comprometer-se com resultados.
A fiscalização e o acompanhamento dos contratos serão feitos pela Agência Nacional de Águas.
Em resumo, isto significa que haverá concorrência.
E em economia, como sabemos, concorrência é o estímulo mais eficaz para que as coisas deem certo.
Texto publicado originalmente em O Estado de São Paulo (20/07/2020).
Junte-se a mais de 100,000 pessoas que recebem conteúdos semanais por e-mail.
Lucilia Diniz desmistifica o que significa viver bem a vida, por dentro e por fora.