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Lucilia Diniz desmistifica o que significa viver bem a vida, por dentro e por fora.
Como fazer para vivermos como as crianças japonesas? Novo livro traz lições das pessoas mais saudáveis do planeta, segundo análise feita em 182 países.
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Eles podem ter fama pelo sushi e os lutadores de sumô.
Mas os japoneses deveriam ser celebrados por uma qualidade não tão reconhecida: serem o povo mais saudável do planeta.
De acordo com uma revisão global de estudos publicada no periódico científico Lancet, uma criança nascida no Japão hoje terá uma vida mais longa e saudável que qualquer outra, de qualquer país.
Especialistas acreditam que o fato se deva a alguns fatores particulares, como o sistema de saúde irrestrito, programas públicos eficientes e estrutura mais coesa da sociedade japonesa.
Mas, segundo os autores de um novo livro sobre o assunto, o pódio de nação mais saudável do planeta deve-se também ao estilo de vida da população.
Em particular, uma abordagem particular com a alimentação e exercícios.
O livro, ainda inédito no Brasil, é Secrets of the World’s Healthiest Children: Why Japanese children have the longest, healthiest lives – and how yours can too.
O nome é longo e autoexplicativo.
Em português, é algo como “Segredos das crianças mais saudáveis do mundo: por que as crianças japonesas têm vidas mais longas e saudáveis – e como a sua pode ter também”.
Na obra, os co-autores Naomi Moriyama, nascida em Tóquio e seu marido, o americano William Doyle, afirmam que famílias de quaisquer lugares podem aprender com os japoneses como criar uma geração mais em forma.
Quando o filho do casal nasceu, os autores buscaram entender o estudo publicado no Lancet na prática.
Em uma viagem pelo Japão em família, investigaram lares, escolas, institutos de pesquisa, supermercados e fazendas.
E entrevistaram alguns dos melhores especialistas em saúde e nutrição infantil do mundo, bem como mães japonesas que vivem em cidades ocidentais (Nova York).
Naomi e William concluíram que existem muitas razões possíveis que fazem os japoneses saudáveis, includindo check-ups frequentes, uma preocupação cultural com a higiene.
Mas também descobriram que o modo de vida tradicional japonês corresponde a tudo o que se defende hoje consensualmente como sendo saudável.
Ou seja, a ênfase em comer mais frutas e vegetais e menos gorduras (especialmente as saturadas), carne vermelha, laticínios e açúcar; bem como praticar exercícios físicos regulares.
Então, o que as famílias japonesas estão fazendo de louvável – e o que os pais ocidentais podem aprender?
O livro aponta que a pista está no prato, com maior ênfase em vegetais nutricionalmente densos.
Uma refeição típica japonesa, os autores apontam, tem uma base de vegetais, é saborizada com tiras de peixe, frango ou carne vermelha, couve chinesa, feijão-mungo, folhas de mostarda, arroz e ervas.
Não apenas vegetais são ricos em nutrientes, mas seu conteúdo de água tem o poder de saciar, protegendo contra o exagero e, consequentemente, o sobrepeso.
Este papel em grande parte é cumprido pelo arroz cozido.
“No Japão, comer o arroz segue uma escala, sendo alternado com sopa missô, vegetais e peixe ou carne, para assim não causar picos de açúcar no sangue (por ser carboidrato)”, diz o livro.
Não é apenas o cardápio, mas a maneira que se come que parece promover a boa saúde.
Um velho ditado japonês, “aquele que tem o estômago 80% cheio nunca vai precisar de médico” resume o sentido de moderação.
Por este motivo, não é surpresa que o consumo médio de calorias diárias no país seja 2.719 (na Inglaterra, o número é 3.414 Kcal/dia em média).
O valor do alimento é ensinado desde cedo, para que não haja desperdício.
As crianças aprendem, tanto na escola como em casa, como os alimentos são cultivados, preparados ritualmente e compartilhados, normalmente entre a família.
Doces, batatas fritas e sorvete não são “demonizados”, mas com apartamentos e cozinhas pequenos não há espaço para armazenar muita comida em casa – assim só entra o que é importante.
Na hora da refeição, não há prato principal.
Todos recebem bowls com pequenas quantidades de muitas variedades, que as pessoas degustam a seu ritmo, desfrutando das diferentes texturas e sabores.
Isso faz com que as crianças diversifiquem a alimentação, o que é importante para formar um paladar mais variado e rico.
Claro que, para nós ocidentais, é difícil adotar tantas mudanças.
Mas a questão da variedade, servida em pequenas porções, pode ser a primeira a ser adotada: um bowl de sopa, um de arroz e três pratos de acompanhamento, com um de frutas como sobremesa.
Nas escolas, a merenda não mudou muito ao longo dos últimos 40 anos, quando incicialmente deveria suprir as crianças no escasso pós-guerra.
Os pratos, sempre saudáveis, são feitos com ingredientes fornecidos pro produtores ocais, e não há vending machines.
Há ainda um outro fator que mantem as crianças em forma: caminhar até a escola, ida e volta, durante toda a vida escolar.
“Isso significa que a recomendação de pelo menos 60 minutos de atividades moderadas a intensas está profundamente inserida na vida das pessoas do país”.
Com a violência de nossas cidades, esta recomendação perde o sentido, mas os autores consideram que o movimento deva ser incentivado, retirando as crianças da frente do vídeo game.
A sociedade japonesa não é perfeita.
O fumo ainda é popular, bebe-se em excesso e o consumo de sal é elevado.
E a influência das redes de fast food se faz sentir nos números de obesidade infantil que, é claro, crescem como em todo o mundo.
Tudo isso significa que há muito por ser feito para manter a pole position de povo mais saudável.
As lições são várias, todas historicamente válidas.
Cabe a você julgar quais poderia adotar para ir consolidando mudanças que vão beneficiar a família a médio e longo prazo.
Considerando o que significam, a tarefa vale a pena.
Capa do livro, ainda sem previsão de lançamento no Brasil
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